BARREIRAS DE ENTRADA
Até
o início da década de 90 o mercado brasileiro de refrigerantes era
caracterizado pelo predomínio de apenas um grupo estratégicos representado
pelas multinacionais Coca-Cola e Pepsi-Cola. Essas empresas apoiavam-se nas
barreiras de necessidade de capital e à diferenciação de seus produtos,
conseguindo influenciar todas as forças competitivas a seu favor o que garantia
altos retornos financeiros e a liderança absoluta no mercado brasileiro.
O
processo de gestão dessas multinacionais centralizava as decisões estratégicas
e operações na matriz, o que diminuía a capacidade das subsidiárias locais de
agir ou reagir frente a mudanças no mercado. Assim, mesmo com um mercado com
todas barreiras à entrada e com forças competitivas a favor das líderes de
mercado, após a explosão de consumo do Plano Real, um novo grupo de empresas nacionais
caracterizado pelas marcas populares passou a ocupar os espaços antes ocupados pelas
multinacionais, chegando a alcançar 30% de participação de mercado. Perdas de mercado
e de rentabilidade para ágeis concorrentes locais, combinadas com uma série de crises
administrativas forçaram as multinacionais do mercado brasileiro de
Refrigerantes a repensar sua estratégia e a descentralizar aceleradamente as
suas decisões estratégicas.
Figura 01: Coca
Cola X Pepsi
FONTE: https://marycarmen478x.wordpress.com/author/marycarmen478x/page/2/
Dawar
e Frost (1999) argumentam que empresas estrategicamente competitivas são capazes
de aplicar o discernimento competitivo adquirido localmente a uma escala globalizada.
Sendo assim, as multinacionais que desejarem ser competitivas devem desenvolver
e considerar as percepções locais para depois aplicá-las aos mercados globais.
Este
novo processo de formulação estratégica reconhece a importância de suas
subsidiárias com um papel de destaque na identificação de oportunidades de
mercado e na criação de vantagens competitivas.
MERCADO
BRASILEIRO DE REFRIGERANTES
Segundo
a Associação Brasileira da Indústria de Refrigerantes e Bebidas Não- Alcoólicas
– ABIR, existem mais de 700 fábricas de refrigerantes no país, que representam 3.500
marcas que abastecem cerca de 1 milhão de pontos de venda e geram
aproximadamente 60 mil empregos diretos e ainda outros 520 mil indiretos. O
Brasil ocupa o terceiro lugar em produção e venda de refrigerantes, com 11,9
bilhões de litros ao ano, atrás apenas do México
(12,7
bilhões de litros) e dos Estados Unidos (57 bilhões de litros), mas apesar
disso o consumo per capita no Brasil ainda é de apenas 63,52 litros por ano, enquanto
no México é de 88,79 litros, o que representa um grande potencial para o
mercado brasileiro. Pode-se identificar dois grupos estratégicos distintos
neste mercado. O primeiro, formado pelas multinacionais, detém 68% do mercado
apresentando produção em larga escala, forte esquema de distribuição, além de
grandes investimentos em propaganda e marketing, reforçando o processo de
diferenciação. No outro extremo, estão as chamadas “tubaínas” e refrigerantes
de marca própria, que são bebidas de qualidade inferior visando o mercado de classe
C e D e que começaram a surgir no mercado com a explosão de consumo após o
Plano Real facilitada pelo lançamento das embalagens plásticas de 2L PET
ocupando. O Sistema Coca-Cola no Brasil é integrado pela Divisão Brasil da The
Coca-Cola Company que abrange a Coca-Cola Indústrias Ltda. e a Recofarma
Indústrias do Amazonas Ltda. e por 42 fábricas engarrafadoras, operadas por 16
grupos empresariais independentes, que atuam em regime de franquia. A Divisão
Brasil é subordinada ao Strategic Business Unit da América Latina com
sede no México, mas a sede mundial da empresa fica em Atlanta, cidade onde esta
foi fundada. A Coca-Cola Indústrias Ltda., sediada na cidade do Rio de Janeiro,
coordena o grupo de franquias e as estratégias nacionais e regionais de
marketing, atuando como consultora exclusiva do Sistema Coca-Cola no Brasil. A
Recofarma Indústrias do Amazonas Ltda., localizada na Zona Franca de Manaus,
produz e distribuem concentrados e bases de bebidas para a fabricação de todos
os seus produtos. As empresas franqueadas têm um contrato de fabricação no qual
se comprometem a produzir, engarrafar e distribuir todos os produtos da
Coca-Cola.
Há dois grupos
estratégicos que operam no setor de refrigerantes. Enquanto as empresas de um
mesmo grupo estratégico possuem semelhanças quanto à cobertura de mercado,
escopo de atividades e estratégias adotadas, empresas de distintos grupos
estratégicos obtêm diferentes margens de lucros, escopo de mercado e
competências distintas. Segundo MCGEE; THOMAS, apud DAY; REIBSTEIN (1999), normalmente há pouca mobilidade e
lucratividades distintas entre os grupos, em função das: diferenças de
recursos, acesso ao mercado, tecnologia e ameaça de retaliação das líderes de
outros grupos.
O primeiro grupo
é formado por um pequeno número de grandes empresas que detêm uma parcela
próxima de 70% do mercado. O sistema Coca-Cola e a AmBev formam esse grupo,
atuam em âmbito nacional e internacional, produzem em larga escala, têm forte
esquema de distribuição, investem altas quantias em marketing para reforçar o processo de diferenciação de produtos, ou
seja, para terem seus produtos identificados e suas marcas consolidadas e,
voltam-se a um público de maior renda.
O segundo grupo é formado por um grande número de pequenas e médias
empresas que possuem reduzida parcela individual de mercado. Seu foco de
atuação recai sobre um público de menor renda e, por esse motivo, concorrem
basicamente em preço. Compõem esse grupo as empresas fabricantes de “tubaínas”,
que atuam em âmbito regional, cujos nomes são identificados apenas em sua área
de atuação.
Apesar da
existência de barreiras à entrada provenientes de economia de escala, da
diferenciação
de produtos e
do acesso aos canais de distribuição, não se pode classificar como difícil o
ingresso de uma empresa no mercado de refrigerantes, visto que uma firma pode
iniciar sua operação no grupo estratégico formado pelas empresas regionais e,
portanto, excluir os obstáculos à entrada provenientes das economias de escala
e da diferenciação de produtos, além de minimizar a barreira advinda dos canais
de distribuição com uma atuação geográfica regional. A alta sensibilidade dos
consumidores em relação à variável preço reforça o ingresso no grupo das
empresas regionais.
As
barreiras à mobilidade no mercado de refrigerantes residem na diferenciação de
produtos e na dificuldade em escoar a produção para inúmeros pontos de venda,
constituindo-se no principal obstáculo de atuação no setor, visto que
removê-las resulta no ingresso ao primeiro grupo estratégico do setor.
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